MULHER
Vânia Pinho

Saiam da frente!!!

Corro por entre a multidão, empurro, grito, não olho a quem, não vejo nada...

Bocas, olhos, braços, pernas, mãos que me tocam...

Um Homem que chama, outro que pede, uma mulher que chora, um beco que fede...

Passos, tantos passos... uns que vão, que vem, partem, ficam, altos, baixos...

Gotas que caiem, suor que escorre e o tempo morre... morre

Bate o coração, cravam-se as garras, grita-se a paixão,

finge-se não ver mas carregam-se escaras...

Escaras de tempos mortos, escaras de encostos perdidos,

de encontros mentidos de amores absurdos...

Aumento... a velocidade... gritam crianças, lamentam os velhos, bebe-se um copo,

fecha-se a porta, abre-se a porta, sento, levanto, digo um olá, finjo não estar, fumo um cigarro...

Apresso a passada, dobro a esquina, calco a calçada, no chão um cão, na janela o gato,

tropeço em mim, aperto a sapato, continua a caminhada...entro no escuro,

mesas, bancos, o balcão iluminado, o empregado sorri... um copo derrubado.

Danço um dança, duas três, o corpo cansa, o homem avança,

a frase falada e eu tão cansada... tão cansada...

Entro no carro, saio do carro, sobe as escadas, abre-se a porta, fecha-se a porta,

despe-se a roupa, calores, temores, suores, gemidos, alguns... sentidos,

range a cama, abana a persiana, parte a garrafa, saltam os músculos,

prende-se a mão, o turbilhão, dispara o coração...

e assim se finge que se ama...

PEDRO LARANJEIRA