PÁGINA DE IMPRENSA DE PEDRO LARANJEIRA 15 abril 2007

BATEU NO FUNDO

Sobre os conteúdos que os media impingem a este pacífico povo à beira-mar plantado, chovem queixas e vitupérios, que vão da eleição de Salazar como o melhor português de sempre pelo serviço público de televisão até ao fantasmagórico reality show da TVI, que tanto faltariam palavras para classificar como faltam nas cabeças daquela gente.

Isto tem fases. No momento, não há cadáveres a ser içados das águas de Entre-os-Rios, de modo que não têm sido precisas ultra-potentes tele-objectivas para tentar violar as distâncias impostas pelo respeito - ou os sentimentos das pessoas - e os departamentos de informação lá vão funcionando com algum recato, mas há coisas que desafiam a paciência.

Desta foi, foi a publicidade que bateu no fundo!

Ela já estava ferida por um anúncio que afirmava: "E isto é verdade, não é só publicidade!" - o que, pelo menos, assume publicamente a diferença entre verdade e publicidade, na óptica dos autores.

Agora, porém, a Cerveja Sagres conseguiu dar o golpe de misericórdia.

Circula um anúncio em que um grande valor da música portuguesa, Luís Represas, artista reconhecido e respeitado, se cala a meio da frase e interrompe a música... porque se vai beber Bohemia! Como diz o Nuno Eiró: "Pelo amor da Santa!"

Interrompa-se a arte, em nome da Bohemia - ainda por cima dessa mesma que na página de abertura do sítio da Sagres afirma: "Sagres acompanha os melhores momentos, os teus momentos. Os momentos em que ouves música..."

Não seria mais verdadeiro: "Sagres acompanha os momentos em que deixas de ouvir música para a beber"?

Não chegava, para promoção, o Pierce Brosnan?...

Nem sequer houve o bom senso de mudar ou retirar o anúncio face à concorrência da Super Bock com o da Abadia, um spot fantasioso mas imaginativo, interessante, que não engana ninguém e até se vê...

A Bohemia prossegue uma lógica férrea: tudo nela se conta em milhões: o fabrico, as vendas, os lucros. Não é de admirar que tenha também investido milhões em publicidade... com o objectivo confesso dew emudecer o país!

Antigamente eram as pessoas que faziam silêncio para ouvir música (..."que se vai cantar o fado"), agora é a arte que emudece para se beber cerveja!

Bateu no fundo!


© PEDRO LARANJEIRA

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