artigo de Guilherme Pereira
Faz hoje anos o meu Amigo-Irmão PEDRO LARANJEIRA, aqui numa foto comigo bem recente.
Ele, charmoso como sempre.
Eu, displicente e coirão,com um boné que me foi pessoalmente oferecido pelo piloto super-campeão e amigo Mickael Shumaker, durante o Grande Prémio do Mónaco.
Confesso que estou, como se diz, metido num molho de bróculos e por duas razões simples.
A primeira é que não costumo dar importância a efemérides, aniversários e afins, mas a minha consciência empurra-me a que o faça hoje.
A segunda é mais complicada.
Sendo verdade que uma AMIZADE se não explica, mas sente-se e vive-se, no inexorável tempo que por nós escapa como enguias vivaças, é igualmente verdade que falar do Pedro é uma tarefa ciclópica, para mim humilde aprendiz de operário das palavras que serei sempre.
A ver se me safo desta...
Já olhei para o umbigo, caldo entornado e, vejam lá como, ao correr da tecla, o egoísmo nos trai.
É de mim que vou falar primeiro e transcrevo parcialmente e com algumas adaptações, o que em prosa anterior escrevi:
“Comecei, verdadeiramente, a minha actividade na escrita e na rádio aos 12 anos. Bem recentemente, o PEDRO LARANJEIRA, avivou-me memórias desse tempo. Ele era o produtor do programa de rádio em que me estreei.
Foi no Rádio Clube de Moçambique, em Lourenço Marques, e era o “Programa da Lenita”…. Maria Helena Jardim, a titular, digamos assim, desse momento semanal infanto-juvenil. Era ouvinte fanático e, um dia, passou-me pela cabeça enviar para lá uns poemazitos.
Fui chamado pelo Pedro, que me recebeu e acolheu, com uma generosidade ímpar. Era disciplinado e disciplinador. Era e é ainda um exemplo de Homem, em todos os sentidos.
Era o produtor, o irmão, o companheiro, o pai.
Os poemas foram editados. Não parei mais".
Escreveu-me o Pedro para a página “PORTUGAL É FIXE!”, de que sou editor, com a informação de que eu seria, nesse tempo, segundo palavras dele, o “puto maravilha”. Em poucas semanas, de facto, eu já era, para o bem e para o mal, a vedeta do programa, com uma audiência, aliás, impressionante. Também foi o Pedro que me fez chegar esta foto desses tempos, comigo rodeado dos meus jovens fãs desse programa. Estou em pé, de perfil, do lado esquerdo”.
O Pedro poderia grosseiramente resumir-se no velho jargão do “faz-tudo”.
Acrescento:
É um “faz tudo bem”.
É Jornalista profissional, homem da rádio e do cinema, investigador exímio, Presidente de uma instituição cultural com estatuto de utilidade pública, a Associação Dr. Manuel Luciano da Silva, e Director do Museu-Biblioteca que a Associação tem em Cavião, Vale Cambra... e é escritor com obra publicada.
CRISTÓVÃO COLOMBO, uma das suas obras, de que publico a capa, é agora o seu ex-libris e obriga-o a correr a seca e a Meca em conferências, debates e colóquios.
Não cabe neste espaço a integridade e profundidade (controvérsia também, pois então!) do livro, embora este breve texto do Pedro vos dê algumas indicações:
“Um dia tropecei numa história mal contada, que está em todas as enciclopédias do mundo: a de que Cristóvão Colombo era um plebeu genovês. Como detesto que sejam ensinadas mentiras aos nossos jovens e como só um ignorante em História poderia engolir a patranha de que o navegador não fosse nobre e não fosse português, investiguei e publiquei um livro a revelar a verdade e os documentos. Achei que, sendo todos os livros sobre o assunto calhamaços de 400 a 600 páginas, devia contar a história numa pequena obra, que se lê em duas horas, essencialmente para captar a atenção da opinião pública em geral e dos estudantes em particular. Foi este o resultado…”
A companheira do Pedro, a Fatinha, (Maria de Fátima, na foto comigo) é uma Mulher das arábias
Inteligente, arguta, linda, companheira de todas as horas, trabalha no “Grupo Sonae” quase de sol a sol, reservada, elegantíssima, paciente, doce.
É motivo de orgulho tê-la entre aqueles por quem nutro o sentimento mais nobre da Humanidade.
O Pedro é capaz de ter defeitos.
Mal fora se não os tivesse… azar o meu… não lhe conheço nenhum.
Vou desarrincar umas horitas para lhe descobrir um, nem que mais não seja para andarmos intelectualmente (claro!) à lambada.
Há, ainda, o Pedro-Pai, também.
Os dois filhotes, a Eva e o Rui ( Laranjeira, claro…) são meus vizinhos em Vila Nogueira de Azeitão e o Pedro, quando fala deles, comove-se sempre. Publico também a foto de ambos….bem lindos, diga-se de passagem.
Estas são palavras do Pedro sobre os filhos e dispensam comentários:

“Pai de três, tenho dois perto, a viver em Azeitão. O Rui é Comandante de Bombeiros, professor na Escola Nacional de Bombeiros e integra os mais altos cargos da Proteção Civil Nacional.
Mergulhador, marinheiro, exímio nas artes do alpinismo, conseguiu aquilo em que o pai falhou: nunca bebeu, nunca fumou… mas o resto faz e bem, porque já me deu uma neta-Filipa com 4 anos.
A Eva, a “putinha” que eu tanto queria depois de já ter feito dois machos, foi planeada e "fabricada" de propósito, para vir a ser uma mulher extraordinária com uma cabeça daquelas “que ninguém tem”!
Mais “despachada” que o irmão, a Eva deu-me um neto-Diogo há 12 anos.
Com filhos assim, qualquer homem pode gabar-se de ter contribuído para um mundo melhor, com OBRA FEITA!”
Como podem facilmente perceber, meti-me, ao escrever esta peça, numa embrulhada…e o mais certo é ter-me faltado quase tudo.
O Pedro, a quem pedi expressamente um depoimento, escreveu esta frase, que o define magistralmente.
Transcrevo sem falhar uma vírgula:
“Já plantei árvores, já escrevi livros, já tive filhos… mas ainda me falta fazer tudo aquilo que não fiz…!”
E por aqui me fico com a amarga sensação de ter esgalhado uma prosa meio falhada.
Foi o que conseguiu arranjar…
AQUELE ABRAÇO, meu IRMÃO!
GUILHERME PEREIRA
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