PÁGINA PESSOAL DE PEDRO LARANJEIRA 28 outubro 1970

Já agora a história:

Tratava-se de filmar uma peça publicitária para o Banco Standard Totta, com o cineasta Luiz Beja.

Tudo começou na praia, com os piratas a sair da água com tesouro salvo, como se percebia, de um naufrágio acabado de acontecer.

Logo então, um bando rival emboscado assalta-nos e tenta roubar a arca. Grande luta na areia, com espadas emprestadas pelo exército, que ficaram cheias de mossas...

Aprendi uma coisa: não sei como é que os antigos faziam (se calhar é verdade que D. Afonso Henriques era um calmeirão cheio de músculo), mas o facto é que não fui capaz de desferir um único golpe a segurar o sabre com uma mão... foram sempre precisas as duas, não havia força que chegasse!

Claro que vencemos os malandros (o argumento era nosso, valha-nos isso) e lá galgamos a duna com arca e tudo.

Do outro lado, a sair do copo de uma espada enterrada na areia, um telefone daqueles pretos à antiga.

Sento-me, e enquanto vou metendo a mão na blusa esfarrapada da minha piratinha e me vou entretendo com a mama dela (não pensem que era fácil, nesse tempo havia censura e a cena passou inteirinha), pego no telefone e ligo para o meu "Boss", com uma conversa ao bom estilo gangster dos anos trinta. Queria saber o que fazer com o tesouro, agora que o tínhamos salvo do naufrágio e dos meliantes da praia. Recebi instruções, que não se ouviam no filme e só mais tarde seriam percebidas.

A cena muda então para a rua da baixa onde nasce a reportagem do recorte acima.

Reunimo-nos todos numa garangem em frente do Banco. Para compor a maquilhagem passamos as mãos pelo motor do carro do Luiz Beja e depois pela cara e pelo corpo... ele ficou com o motor mais limpo e nós com um "look" bem pirata!

Tinha sido combinado com o Director de Marketing do Banco que à hora de abertura nós entrávamos sem que nenhum dos funcionários soubesse o que passava - tinham apenas sido avisados que iam lá ser recolhidas umas imagens para um anúncio, o que explicava as câmaras colocadas entretanto lá dentro.

Tudo a postos e ninguém no Banco suspeitava de nada, porque a cena descrita na reportagem não se via do interior. Pretendiamos usar a surpresa e reacções naturais dos funcionários quando tudo acontecesse.

Aí revela-se então quais tinham sido as instruções recebidas do "Boss" e, logo, a mensagem do anúncio, que era mostrar que o que devia fazer-se com um tesouro, sem dúvida, era ir depositá-lo no Totta, pois então!

Portanto, abrem-se as portas do Banco, câmaras já a rolar, e, perante a estupefacção e algum susto dos funcionários, chego junto à Caixa, logo seguido por dois piratas que carregam a arca, assento uma valente espadeirada sobre o balcão e ordeno: "Deposite isto, por favor!"

Entretanto as câmaras estavam a rolar e a cena ficou autêntica e magnífica - o funcionário da caixa nem teve que ser bom actor, bastou captar-lhe a reacção natural...

A peça ficou brilhante como publicidade - o próprio nome do Banco nunca foi mencionado, apenas apareceu no último plano da câmara, enquanto rodava da cena final, pela parede, até um "fade-out" que terminava o filme.

Alô, Luiz Beja, onde quer que estejas: manda lá uma còpiazita deste teu trabalho espectacular, para incluir aqui...!


© PEDRO LARANJEIRA
PUBLICADO

PESQUISA    NAS MINHAS PÁGINAS E NA WEB