A sombra que ensombra a parede do prédio
não mais faz que sombra mas não é assédio
que a sombra que pesa quando é prepotente
e não vem de luz mas nasce de gente
é a força mais forte de ser violência
num nojo de abuso demente sem pejo
que a própria demência esconde ao desejo
do egocentrismo sem conta nem pejo
e fere mais fundo que a ferida maior
não é deste mundo, é apenas dor
de nos violarem até ao tutano
com requintes ébrios de mau predador
que não é urbano, é verme menor
que não é humano, é bosta e bolor
que saiu do estrume e ao estrume regressa
rezai com fervor: que o faça depressa!
…e então, finalmente,
que não se disfarce, não finja ser gente
e o mundo lhe dê o quanto merecer:
uma cova calcada de terra pesada,
seu nome gravado cá em cima, "Estupor",
e o letreiro podre "Que descanse em dor"!

© PEDRO LARANJEIRA