Sintra, Sintra património…
…património de tristeza
deste povo que é anão
em meio a tanta grandeza
da lusa desilusão
de ser pobre até mais não
rodeado de riqueza…
Sintra serra de mistério
que já foi o cemitério
de tanta esp’rança perdida
mas também que já deu vida
a coisas que nunca morrem!
Sintra que já foi estrela
flamejante, deslumbrante,
dava gosto só de vê-la
levar o destino àvante
desde um museu fulgurante
a um prédio inteligente…
Depois Sintra foi seara
com ventos de novo ouro,
renovou-se, deu a cara,
mas manteve o seu tesouro
património de beleza
via aberta pró futuro
dos sonhos da sua gente
Sintra estrela incandescente
ou seara ao sol doirado
conserva sempre o mais puro
do seu destino encantado
e agiganta-se no muro
das pedras da sua essência!
Duram minutos apenas
as velas da ilusão,
que as pessoas são pequenas,
quer saibam disso quer não…
Deixem o nome na rua
se abalarem por urgência…
mas pensar que Sintra é sua
ninguém tenha a insolência!
Pensar que se manda nela
é como ver duas pulgas
que habitam num canzarrão
discutir de forma acesa
quem é a dona do cão…
Porque Sintra é bem maior
que os sintrenses que lá passam
(já era assim noutros tempos
e há-de sê-lo outros tantos)
por muitas coisas que façam
pra torná-la inda melhor
mais importante é saber
olhar Sintra com amor!
…que se cada português
que a visita ou vive lá
aprender o que é amar
a vida que o chão lhe dá
e esse chão lhe for lar
descobre duma só vez
quanto orgulho deu aval
(por sintra ser lusitana)
ao respeito universal
de quem com Sintra se irmana:
seja Ohmura no Japão
San Isidro, n’Argentina,
Bissau, Namaacha ou Havana
El Jadida marroquina
a Trindade em S. Tomé,
Ilha Brava em Cabo Verde,
A Honolulu hawaiiana,
Petrópolis no Brasil…
há sempre qualquer razão
pra fazer de Sintra irmã…
…e são razões mais que mil
a projectar um passado
nas certezas de amanhã!
Saibam pois os portugueses
guardiões deste tesouro
dar-lhe essa coisa singela
que agiganta tudo e todos:
um amor sem nada em troca
que não há coisa mais bela
e vale mais que vale o ouro!
Do presidente ao cigano,
do lavrador ao banqueiro,
do cozinheiro ao doutor,
do servente ao professor,
do enfermeiro ao bancário,
do jornalista ao cantor
do carpinteiro ao notário
do polícia ao vagabundo
do analfabeto ao pintor
do pedreiro ao empresário
do seara até à estrela,
do magistrado ao campónio,
é o nosso amor por ela
que enriquece o património!