MARCAR PASSO    

Ai quanto caminho andado sem uma hora serena,
quanto sonho empacotado, sem nada a valer a pena...

Não é fácil, dia e noite, tentar viver a teu lado
seja quem for que se afoite, tem o destino traçado.

Tu sabes tudo, és brilhante, nunca te achas enganada,
e não há alma pensante que te possa ensinar nada.

Vives tanto a fantasia de fazer o que é correcto
que podes morrer um dia só pra não dar mau aspecto...

Sacramental consciência de que a vida está finada
é essa tua apetência de nunca arriscares-te a nada.

O que levamos connosco, por muito que cá tenhamos,
não passa de um resto tosco do muito o que cá sonhamos...

Não sei que diferença faz ser-se sensato, afinal...
quer se seja ou não capaz, a morte é-nos sempre igual.

Tu tens família de sangue com pedigree do mais puro
Fora dela, fica exangue… o resto do teu futuro.

Vives tanto na distância dos que mais longe te são
que até já perdeste a ânsia de qualquer outra emoção...

Futuros pra ti não há, e que os outros não te afrontem,
o amanhã já cá está e é igualzinho a ontem...

Resta a sombra da saudade de abrir a mente e sonhar:
a porta da liberdade só tem trinco de fechar...

Ficou-me a lição maior das que contigo aprendi:
não há solidão pior que a solidão junto a ti!...

... mas enquadras-te tão bem nos outros da tua gente
que és sempre como convém, não és igual nem diferente.

Os de teu sangue na vida são tua eterna vigília:
Vê lá se tens garantida uma velhice em família!...

© PEDRO LARANJEIRA