Gira tudo num sonho, fumo e ar
caindo do alto em turbilhão,
funde-se o Mundo na paz universal
do belo sem sentido social...
Paz!
Oh, calma, terna, bela, profunda, silenciosa e negra sensação
que nadou por mim, profundamente,
até ao cordão umbilical da semente virginal
do seio da paz que eu guardo em mim
e me prostrou, assim, sozinho, esvoaçando,
no visco limpo do mais profundo e introspectivo dos partos anormais
que geram animais sem cerebelo...
Dei luz um filho do luar
que se vai por um processo atroz transfigurando
na cor eterna da nuvem sobre o mar!
Criei olhos que sentem dimensões
em toda a gama vital dos que vislumbram
que pensar emite vibrações.
Conflituosa a vida, o som 'stridente
dos seus longos transes em hiper-sinfonia
valeu por um só tanger dolente
o psiquismo louco dual - cacafonia!
Vem a mim, Universo inconsistente,
vem dormir comido na cama que 'stá quente
da minha grande verdade que alcancei!
Quando te beijar, ó super-emoção,
sentirás na feroz ternura com que afago o teu astral
o cheiro puro duma só flor...
Quero vibrar contido na orgia selvática da dança primitiva
que transporta o sexo, em ódio, compaixão e dor,
ao limite universal d'anciã sabedoria!
Justiça, liberdade, amor total,
ódio profundo pelo mal...
- eu sinto assim, por fim; já alcancei a pétala perdida da flor
que me dá percepção sensorial p'ra poder olhar e ver
a nuvem sobre o mar!...
Deixai-me sonhar!
Deixai que eu possa amar, imaculado,
e morra virgem de pecado!

© PEDRO LARANJEIRA