a música é quente, como o corpo harmonia,
a dança só pode sonhar-se e seduz,
que o sonho é poente e a fé fugidia,
mas danço contigo na réstea da luz
deste meu fim de dia
em que às vezes me encontras
sózinho e vazio, sedento de mais...
vestido fingido de um nu de gentio
de barco sem porto,
oceano sem cais,
nem vivo nem morto,
que apenas existe
qual flor sem jardim...
...e fico mais triste,
mais longe de mim,
a ver-me secar
na distância do humus
que te rega a poesia
de saber dançar...
poeta, falua de grés maresia,
andrógina, musa, mistério, mulher,
tu és uma voz que brota da noite
e acorda a verdade que a vida nos quer:
paira, anabela, desdobra-te em fenix
que as cinzas-segredo ninguém pode ver!...
mas antes que eu fuja pra longe de mim
e um cometa-meta me ajude a morrer,
deixa-me dar-te, uma vez, uma só,
um gesto de noite sem mar nem luar
um beijo anelar, um afago na alma,
escuro e distante, secreto, apelante
ao fogo uterino que acorde a demência
de fazer brotar
essa tua essência de estrela quasar...