UMA DOENÇA ESCONDIDA QUE PODE ESPERAR 40 ANOS PARA APARECER NÃO DIAGNOSTICADA, PODE CONDUZIR À MORTE QUANDO DESCOBERTA, TEM CURA EM 24 HORAS Trata-se de uma coisa em que ninguém pensa, que os médicos não procuram, que pode matar mas tem cura… e que qualquer português que tenha estado em África pode trazer no corpo, sem saber, durante quarenta anos. Chama-se esquistossomose e merece atenção.
Só pode ser contraída em regiões tropicais da África sub-Sahariana, portanto em Angola, Moçambique e na Guiné, onde viveram ou por onde passaram muitos portugueses.
O problema reside em que a doença pode ser contraída e ficar latente durante cerca de quarenta anos, o que coloca como alvos todos aqueles que viveram nas ex-colónias, as visitaram ou aí fizeram serviço militar.
A esquistossomose é provocada por parasitas platelmintos do género "Schistosoma".
Com 200 milhões de casos em todo o mundo, mata cerca de 200.000 pessoas por ano.
José Fidalgo Matos encontrou-a recentemente, já quase tarde de mais, mas a tempo ainda de salvar uma vida. Fomos falar com ele, para saber mais...
Mas estou convencido que há muita gente que anda com a doença e nem sequer sabe que a tem, muitas vezes é completamente assintomática e só muitos anos depois, trinta ou quarenta anos mais tarde, se vem a descobrir por outros motivos - o período de incubação pode chegar a quarenta anos, sem nenhuns sintomas.
PL - Este parasita é uma larva?...
JFM - Exacto, há três tipos diferentes de parasitas, uns que se dirigem mais ao tubo digestivo e provocam lesões no fígado ou a nível intestinal, mas em urologia o específico é o Schistosoma haematobium, que tem afinidade pela urina e pela bexiga ou pelo rim e que fica lá a hibernar, a produzir ovos e a levar à degenerescência carcinológica.
PL - E pode ficar durante quarenta anos num estado latente?
JFM - Exactamente. De início, ou a fase aguda da doença passa despercebida ou é-lhe dada outra etiqueta.
Por exemplo, as pessoas aparecem por vezes com essa doença per primum, com umas febres e a perder sangue nas urinas e não se descobre logo do que se trata, porque nem sequer se pensa nesse diagnóstico e encontra-se uma desculpa qualquer para justificar esse quadro...
PL - Ou seja, os sintomas são semelhantes a outros quadros clínicos?
JFM - Exacto. Isso depois passa, esquece-se e vai-se andando uns anos, só que o animal fica lá a produzir desgastes e a reproduzir-se. Passados muitos anos, chegam as consequências, que podem ser os rins destruídos, ou a bexiga destruída.
PL - O que é que pode ser feito? Acha que vale a pena as pessoas que estiveram em África fazer um teste, um despiste?
JFM - Eu acho que sim. O teste é facílimo, é uma simples análise de urina, em que se deve alertar o laboratório para a pesquisa do Schistosoma.
PL - Que consequência é que a doença pode ter, a longo prazo?
JFM - No pior quadro clínico, provoca cancro, um cancro que é diferente dos outros tipos de cancros da bexiga, em geral mais agressivo. A consequência é a pessoa ter que tirar a bexiga, o aparelho urinário e fazer as modificações necessárias.
JFM - Olhe, acho que tem havido um exagero nos media relativamente a doenças, nomeadamente ligadas à próstata e a doenças sexuais. As pessoas entram em pânico.
Por exemplo, o cancro da próstata, se bem que é uma doença que deve ser vigiada, mas não é algo de tão perigoso como as pessoas imaginam. Não é uma causa de morte!
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