Uma daquelas histórias que não se esquecem facilmente ficou-me da entrevista que fiz ao Padre Maia sobre o seu trabalho humanitário no Porto.
O Padre Maia dedica-se ao combate à pobreza e exclusão social e escolheu como público-alvo o mais radical que existe em marginalidade: os habitantes de bairros degradados, muitas vezes desenquadrados do mais elementar ambiente familiar, reunidos em gangs de rua, votados à criminalidade, isolada ou organizada, alguns consumidores outros traficantes de droga.
A Fundação FILOS é o braço de trabalho criado e dirigido pelo Padre - FILOS porque, diz, a palavra significa "Amor" e "a exclusão não se combate com repressão, integra-se com amor!"
Uma das suas muitas iniciativas concretizou-se um dia pela instalação de uma sala com computadores que podiam ser utilizados por quem o desejasse. Serviu para descobrir um interesse inusitado por parte da terceira idade, incluindo um senhor com mais de noventa anos que queria "aprender essas coisas da Internet, para trocar emails com os netos"... mas não só: muitos dos "excluídos" e marginais do sub-mundo urbano da Invicta mostraram interesse e ali se divertiram, estudaram e aprenderam...
...até que um dia... a sala apareceu vazia!
Os computadores tinham sido roubados.
Não foi grande a surpresa, convenha-se, nem todas as ovelhas do Padre Maia se integram rapidamente no rebanho, algumas resistem durante muito tempo e custam grande esforço e dedicação - dado o tipo de vida e hábitos daquelas comunidades, um roubo não era propriamente uma novidade desconcertante.
Mas não se passaram mais que dois dias, quando a surpresa - essa sim - se manifestou.
O autor do assalto apresentou-se, humilde e envergonhado... com os computadores e um pedido de desculpas.
Tinha ficado tão entusiasmado com a oportunidade de acesso à sociedade de informação, que só os mais privilegiados costumam ter, tão fascinado com as potencialidades da informática e da Internet... que resolveu roubar os equipamentos!
Esqueceu-se de um factor crucial, que levou ao arrependimento, à confissão e à devolução dos computadores.
Não tinha electricidade em casa - nem net, é bom de ver - portanto não lhe valeu de nada, foi só mesmo o entusiasmo, um crime que não compensou...
A moral da história só é possível, neste caso, por se tratar do Padre Maia - quem o conhece entende o que isto quer dizer - o rapaz foi perdoado, aprendeu a lição e ficou decerto um homem melhor, agora com acesso à informática e à net, sempre que quer... na sala da Fundação FILOS.
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