PÁGINA DE IMPRENSA DE PEDRO LARANJEIRA 8 junho 2007

Salão Internacional

Erótico  de  Lisboa

de 21 a 24 de junho, na FIL

Já fomos o centro histórico do mundo e nem mesmo a globalização nos deslocalizou como encruzilhada de culturas, fulcro internacional de encontros e planos, meta de aventureiros e ponto de partida para os cinco cantos do mundo, porta da Europa, refúgio de artistas e espiões, ponte para África e as Américas.

Não admira, pois, que Lisboa tenha sido vista como o sítio ideal para receber um evento que já granjeou visibilidade internacional na sua esfera específica, neste caso o erotismo e toda a indústria de bens e serviços que lhe estão associados.

É o que se passa em Portugal há já dois anos.

Uma feira internacional que nasceu em Barcelona e ali deu os seus primeiros passos, transferiu-se para Lisboa, com as lições aprendidas, despida das apostas erradas e ambiciosa de novos projectos.

O Salão Internacional Erótico de Lisboa vai estar na FIL, no Parque das Nações, entre os dias 21 e 24 de junho, num certame aberto ao público das duas da tarde à uma da manhã e que encerra às dez da noite de domingo.

A organização prevê a visita de 40.000 pessoas, mais de duzentos órgãos de comunicação social e a presença de 70 expositores, apoiados por oitocentos profissionais do universo do erotismo, que vão de técnicos de saúde e organizações humanitárias aos artistas de entretenimento erótico mais consagrados do mundo.

Ali estarão as estrelas mais conhecidas do cinema para adultos, de origem russa, brasileira, espanhola, italiana, checa e, claro, portuguesa. Nomes como Dunia Montenegro, com um currículo de mais de 400 filmes, a super-modelo Susana Spears, que se tornou famosa por um "erótico suave de grande sensualidade", e até a artista e ex-deputada italiana Cicciolina, que os portugueses recordam bem, da sua visita ao Coliseu e à Assembleia da República em 1987 - vai dar um concerto musical durante o certame.

Decorre um concurso de fotografia erótica, cujos trabalhos vencedores estarão expostos no Salão, integrados numa exposição de arte erótica.

De notar o grande enfoque cultural em que o certame de Lisboa difere dos seus antecedentes catalães.

Disso foi exemplo o Salão de 2006, onde houve um congresso de webmasters, conferências e debates, dois livros lançados pela D. Quixote e até um concurso literário, ganho por João Abreu, um estudante de arquitectura de Guimarães.

Ficou prometido para este ano o lançamento de um livro sobre os direitos dos trabalhadores do sexo, de uma autora portuguesa, Ana Lopes, que promete ser polémico e sairá em simultâneo em várias línguas e vários países.

Outra novidade para 2007 é um espaço reservado a senhoras, onde poderão assistir a aulas de sedução e demonstrações de artigos eróticos.

As duas edições anteriores do Salão Erótico foram um êxito, pautado pelo grande civismo do público e pela criatividade trazida pelos organizadores.

A encher completamente um dos Pavilhões da FIL, o Salão de 2006 mostrou a Portugal tudo quanto se relaciona com o mundo do erotismo, desde os artigos da mais variada e imaginativa diversidade até às diferentes correntes de cinema para adultos, do artisticamente "soft" ao graficamente explícito.

Todas as correntes e tendências estiveram representadas no Salão Erótico. Havia um stand para amantes do bizarro, que lançou o número inaugural de uma nova revista, espaços dedicados à tatuagem, à banda desenhada, à literatura erótica, stands de todos os grandes produtores de vídeo, incluindo os nacionais, um bar "afrodisíaco", salas de cinema, espaço gay, transsexuais, bancas de jornais e revistas, palcos com todo o tipo de espectáculos eróticos (mas não sexo explícito) direccionados tanto para o público masculino como feminino, exposições de lingerie e vestuário de cabedal, espaço de webmasters e servidores de sites eróticos, lojas de produtos orientais, espaços dedicados à massagem, com oferta de demonstrações e formação a quem desejasse, diversões, concursos, um palco de luta na lama, aconselhamento diverso e oferta de brindes, etc...

A Liga Portuguesa Contra a Sida distribuiu literatura e informações (e mais de 10.000 preservativos), houve demonstrações de pintura corporal e todos os artistas presentes, homens e mulheres, estiverem sempre disponíveis para se deixar fotografar com o público, o que foi um fascínio para centenas de casais que acharam divertido levar para casa uma fotografia do respectivo consorte (ela ou ele) com uma das estrelas (ela ou ele) que protagoniza os filmes nas prateleiras do clube de vídeo lá do bairro...

Uma das novidades introduzidas no ano passado foi um "espaço swing", privado e com admissão rigorosamente reservada a casais, que esteve sempre cheio, durante os quatro dias do Salão. O nível de interesse e adesão que ali se verificou reflecte um fenómeno crescente numa fatia discreta da sociedade portuguesa, que tem já círculos bem organizados nas grandes cidades, mas acontece cada vez mais um pouco por todo o país.

Todas as empresas nacionais ligadas ao ramo estiveram presentes, algumas com eventos pontuais e interessantes, como foi o caso do lançamento de um "vinho afrodisíaco" pela Casa d'Eros, apoiado na presença de um enólogo de renome.

Talvez mais que os palcos e os espectáculos, a grande atracção foi, como seria de prever, a exposição e venda de artigos para adultos, desde "brinquedos" e recordações, a lingerie erótica, adereços e toda a moderna gama de auxiliares de natureza sexual, principalmente os estimuladores em centenas de formatos e com inumeráveis aplicações.

Havia stands, lojas, consultórios e expositores. Começando com extensas bancadas do tipo "loja de chinês", até aos mais sofisticados artigos de concepção científica e acabamento luxuoso, havia para todos os gostos e todos os preços.

Lá estavam os mais recentes Franchisings, bem como revendedores e importadores, desde o mais simples retalhista à empresa mãe do negócio em Portugal, a Erosfarma, que detém uma imagem de tradição e prestigio, por ter sido a entidade pioneira que trouxe ao mercado nacional o primeiro negócio de "Sex Shop" legal, e tem já lojas em Lisboa, Porto e Albufeira, para além de um movimentado espaço de divulgação e venda através da Internet.

Para que não houvessem espaços (ou tempos) mortos, a animação foi permanente, da abertura ao fecho, todos os dias, com projecção de filmes (este ano há um espaço dedicado ao cinema português), concursos, strip-tease, bailado, exibições para o público de ambos os sexos, música, demonstrações... uma lista enorme de temas e entretenimentos.

Uma das notas mais positivas do último Salão Erótico foi o ambiente de quase familiar cordialidade entre todos, artistas e visitantes, numa atmosfera de classe e civilidade, onde ninguém se sentiu chocado, ninguém se achou ofendido, não houve qualquer incidente ou desconforto.

Por lá andava a Polícia, é verdade, mas passeavam descontraidamente como se estivessem de folga e não foram chamados a agir - a verdade é que não há nada mais bonito num polícia que vê-lo sem nada que fazer...

Num país onde há distúrbios no futebol, rixas em feiras, roubos em concentrações, drogas (legais ou não) em concertos, crimes em espaços de lazer... por mais minoritários que sejam, destaca-se um evento onde não acontece nada que fique como má recordação. Precisamente um Salão Erótico, ou uma Feira de Sexo, com também lhe chamam, que chegou, antes de ter acontecido, a provocar comentários de suspeita e reserva... que a realidade calou.

Como calou quem tivesse chegado a dizer que seria um espaço formatado para um público masculino, quando 2006 mostrou que a maioria dos visitantes foram casais e os homens ou mulheres sozinhas não diferiram muito nos seus totais.

É o que este ano vai ocupar quatro dias de Lisboa, mais sofisticado, aumentado nas ofertas e melhorado nas estruturas, para que uma das características fundamentais da natureza humana - a sensualidade, o erotismo, o sexo - possa ter também a sua Feira, com Portugal como anfitrião.


© PEDRO LARANJEIRA
PUBLICADO

PESQUISA    NAS MINHAS PÁGINAS E NA WEB