PÁGINA DE IMPRENSA DE PEDRO LARANJEIRA 8 junho 2007

Há quem lhe chame o centro do mundo, há quem lhe chame a capital da Europa.
Londres é uma cidade mágica, onde tudo existe, tudo acontece, tudo é possível.

A explosão demográfica e o fascínio da vida urbana há muito tempo que levam as pessoas a migrações contínuas para as grandes metrópoles, provocando uma crescente desertificação do interior e uma massificação das grandes cidades, que as desumaniza.

É o caso de Los Angeles, Xangai, São Paulo, México, Nova Iorque.

Ninguém conhece ninguém, é um perigo andar na rua, o dia-a-dia é quase robótico.

Londres escapou a tudo isso.

Se não é uma das maiores cidades do mundo, é provavelmente a melhor grande cidade do mundo.

Não conheço ninguém que não se tenha apaixonado à primeira visita.

Quem começa a conhecê-la e lhe aprende as virtudes, depressa percebe que se as coisas preciosas para a qualidade de vida fizessem parte do Guiness, Londres tinha um sem-fim de registos e, se calhar, o maior número de nomeações individuais no livros dos recordes.

Por exemplo: é a cidade do mundo, entre as do seu tamanho, com maior espaço verde: mais de 30% da sua área urbana, espalhada por 147 parques. É a capital mais jovem da Europa, com 47% da população entre os 16 e os 44 anos. É a cidade do mundo em que se fala maior número de línguas, mais de 300.

Tem a maior população não branca de qualquer cidade europeia, mais de um quarto dos seus habitantes.

É a única cidade do mundo onde existem - e se praticam - todas as religiões conhecidas.

Tem o Aeroporto mais movimentado do mundo, Heathrow (67 milhões de pessoas em 2004) que providencia 68.000 postos de trabalho - mas Londres tem outros quatro Aeroportos Internacionais, que escoam mais de 120 milhões de pessoas por ano.

Finalmente, segundo estatísticas oficiais conduzidas há vários anos, 82% dos visitantes declaram-se encantados com a simpatia dos londrinos para com os estrangeiros.

Mas não acaba aqui a lista de factos impressionantes sobre Londres e o que tem para oferecer a quem a visita. Com uma área de 1.600 quilómetros quadrados e perto de oito milhões de residentes, é uma cidade organizada, sem engarrafamentos de trânsito e onde se pode andar a pé a qualquer hora.

Há crime, como em todo o mundo, mas é a excepção, não a regra: a regra é que se pode passear em Londres com mais segurança que em Lisboa.

Com excepção das horas de ponta e dos turistas (há sempre mais de um milhão), as ruas são calmas e a circulação tranquila.

Claro que há "momentos": por exemplo, em janeiro tentei atravessar Leicester Square, no centro da baixa, uma zona de Teatros e Cinemas e mergulhei numa multidão compacta de mais de duas mil pessoas... mas percebia-se: estavam a rodar um filme com a Madonna e o povo queria ver... claro!

Aliás, Leicester Square é um local mágico - em 2004 fizeram-se ali 42 estreias mundiais de grandes filmes. Não há "estrela" no planeta que não tenha por lá passado.

Aqui ficam algumas dicas para quem embarcar nesta aventura: à chegada, a primeira coisa a fazer é ir ao Hotel pôr as malas e sair de imediato. Primeiro destino: Picadilly Circus! É um pouco "o centro do mundo", por quem lá anda, pelo que se vê... e porque é o coração de Londres.

De noite é feérico, com uma explosão contínua de luz e movimento.

Ao fim de semana vive até alta madrugada, por vezes mais de dez mil pessoas a passear entre Picadilly e Leicester Square, com "performers" de rua, às vezes de grande qualidade, artistas que pintam o seu retrato na hora por meia dúzia de libras, cinemas, restaurantes, bares, lojas sempre abertas, sítios fantásticos para fotos de recordação.

Ali mesmo ao lado, o Soho, vida nocturna, sex-shops, todas as cozinhas do mundo, livrarias até altas horas.

Pergunte onde é Chinatown, são três minutos a pé e mergulha-se em Hong-Kong. Restaurantes e lojas de todos os tipos, onde não se vê uma palavra em inglês, é tudo chinês - incluindo a decoração das ruas.

Logo ao lado, a capital mundial do Teatro!

600 milhões de euros em bilhetes, por ano.

Da comédia a Shakespeare, do musical ao clássico, rua atrás de rua, é todo um bairro pujante de artistas e espectadores ávidos dessa experiência única que é ir ao Teatro em Londres.

De uma oferta de peças que torna a escolha difícil, optei por ir ver um musical cujo filme fez história no cinema em 1964: "Mary Poppins".

É uma experiência que não se descreve: vive-se! Vá ver e entenderá.

Uma coisa que não esperava era encontrar num Teatro os efeitos especiais do cinema, mas lá estavam todos - desde a cozinha partida a recompor-se (no filme era o quarto das crianças) até à própria Mary Poppins, no fim, a ir embora com o guarda-chuva a fazê-la subir às nuvens - e foi mesmo, passou um metro acima da minha cabeça, rumo ao fundo do balcão.

Cá fora, passei por mais uma aventura daquelas que só mesmo no coração londrino do teatro: um cavalheiro viu-me a sair e precipitou-se para mim com os braços abertos e uma grande exclamação de contentamento!

Demorei algum tempo a perceber... já me tinham dito, por brincadeira, que eu tinha "uns traços" do Omar Shariff, mas nunca pensei que alguém me confundisse com o dito. A verdade é que o senhor achava mesmo que eu era o "Sharif Ali" do Lawrence of Arabia, "tinha-me encontrado" há vinte anos atrás não sei bem onde, "claro que eu já não me lembrava dele, mas ele nunca se esqueceria", por aí... tentei explicar-lhe que estava enganado, mas ele não se deixou convencer, "ora pois, todos os artistas dizem isso para passar despercebidos", a ele não o enganava eu...

Folclórico foi quando um daqueles condutores de "rickshaw" a pedal que abundam na noite de Londres interrompeu a conversa para saber se eu queria serviço de táxi e o meu "admirador" o enxotou: "Deixa-te disso, pá, este homem vai é arranjar dois camelos e vamos passear para o deserto!" - quando me livrei dele, não sem antes me ter dito galantemente que a senhora que me acompanhava "era mais bonita que a Raínha de Sabá", percebi que ainda hoje deve pensar que encontrou o Omar à saída do teatro (depois de vinte anos)... "e o gajo não se descoseu!"...

Só mesmo em Londres!

Mas deixemos nascer o dia outra vez, na cidade: vale a pena ir até Trafalgar Square, uma praça enorme com a coluna ao Almirante Nelson no centro e leões gigantes que fazem os encantos das fotos dos turistas. Há sempre manifestações, todas as causas, dos cinco cantos do planeta: é a janela de Londres para o Mundo, ao vivo, por fotografia ou através das televisões.

Dali, é agradável um passeio em direcção ao rio - quando menos se espera, lá está o Parlamento e o mais conhecido símbolo de Londres: o Big Ben.

Bem perto, o "Olho de Londres", uma roda gigante de onde se pode ter uma vista da cidade que cola o estômago às costas.

É impossível uma lista de sugestões: é tão difícil escolher o que fazer como decidir o que deixar por fazer...

...ir ver o Palácio da Rainha (Buckingham Palace) e o render da guarda, tirar uma foto junto ao famoso nº 10 de Downing Street...

...fazer compras no Harrods (esta ninguém falha) ou gastar a manhã de sábado no mercado de Notting Hill, Portobello Road (não diga nada que não queira que alguém perceba, os portugueses estão lá, em peso)...

...ou pode apanhar o metro para Baker Street e à saída dá de caras com o Sherlock Holmes e o seu fiel Dr. Watson, para uma foto consigo. 50 metros à esquerda, outro "must" de Londres: Madame Tussauds, o famoso Museu de Cera.

Lá estava o José Mourinho, com apresentador e tudo, de microfone na mão - perguntou se gostávamos de futebol; "Não, somos portugueses!" Bom, foi uma festa, obrigou-nos a entrar, tirar fotos... "the works"!

Se tiver saudades de casa, procure a imagem da foto, à saída de Leicester Square, perto do metro. Até às cinco da tarde ali estão todos os dias estas duas almas que lhe servem um almoço (barato, por sinal) na nossa língua, e batem papo de saudades deste canteiro à beira-mar plantado.

Os ingleses são um povo simpático e tolerante: fazem a sua vida e não se metem na do próximo. Londres deve ser a única cidade do mundo em que se decidirmos sair para a rua de pijama, pantufas e touca de dormir à antiga, ninguém olha, ninguém repara... e se alguém olhar, está claro que é de fora, é turista!

No entanto, a cidade é grande e cheia de gente. São três milhões de casas e uma densidade populacional média de mais de 4.500 pessoas por quilómetro quadrado (Chelsea, a zona onde fica o clube do nosso Mourinho, é a zona mais densa, com 13.300 habitantes por km2). Três milhões e meio de pessoas vivem e trabalham em Londres, e outras 800.000 vêm todos os dias dos subúrbios.

A cidade é também um paraíso de cultura, com mais de 200 museus e quatro áreas classificadas como Património Mundial, incluindo a Ponte da Torre, na foto que abre este artigo, para além da riqueza incalculável de milhares de monumentos, relíquias arqueológicas, parques, castelos, docas, catedrais, obras arquitectónicas de tirar a respiração, do mais antigo ao mais futurista.

Só no Ensino Superior, existem em Londres 306.000 estudantes. Não há curso que não se encontre, do tradicional ao invulgar, do científico ao esotérico, da iniciação ao mestrado.

Para o turista, a cidade tem uma oferta imensa: mais de 6.000 Restaurantes com cozinhas tradicionais de 56 países, 3.800 pubs e 233 clubes nocturnos. Só na zona de Westminster, no centro, há 330 locais abertos depois da meia-noite.

Para quem gosta de ir às compras, Londres tem mais de 40.000 lojas e 80 mercados.

A parte negativa da cidade é o custo dos hotéis. O alojamento é caro, mas a oferta é de mais de 1.500 sítios: a concorrência tem vindo a fazer descer os preços e o meu conselho é que procure na Internet e faça a reserva antes de ir. Há imensos locais para pesquisa, o melhor mesmo é digitar "london hotel" no Google e ter a paciência de navegar uma hora ou mais - a maior parte dos sítios lista os hotéis por preço e zona.

Convém ter um mapa ou abrir na net o do metro, para verificar que se fica perto do centro - 90% da oferta, em qualquer dos casos, situa-se aí.

O metro divide-se em zonas, do centro para a periferia, portanto o alojamento deve ficar nas zonas 1 ou 2.

Prepare-se para gastar entre 50 e 120 euros por dia, por casal, para um hotel modesto mas agradável.

Viajar em Londres é o mais fácil: apesar de existirem 21.000 taxis na cidade, fazem-se férias sem ter que recorrer a eles. O sistema de transportes públicos é dos melhores do mundo.

O Metro de Londres é um dos mais complexos e bem organizados do mundo. Mas para que o seja, contribui tecnologia portuguesa, através de uma empresa líder de mercado na gestão de recursos humanos em transportes ferroviários, a SISCOG, duas vezes premiada pela Associação Americana de Inteligência Artificial e que gere também os caminhos de ferro holandeses, noruegueses, finlandeses e dinamarqueses.

O metro ("Underground") não funciona entre a uma e as cinco da manhã, mais meia menos meia hora dependendo da linha e da estação (verifique a hora do primeiro e do último comboio - está em todas), mas os autocarros circulam 24 horas por dia.

A melhor opção é comprar um "Travel Card", à venda em todas as estações de metro (compre em Londres, não na net) para as zonas 1 e 2, que cobre tudo o que pode desejar. Um dia custa £6,60 (cerca de 9,90 euros), de três dias 24,60 €, de uma semana 34,80 €, o que significa que por menos de 5 euros por dia pode ir para onde quiser, à hora que quiser, pelo meio de transporte que quiser, porque estes cartões são válidos para o metro, para todos os autocarros, a maioria dos comboios urbanos e transportes fluviais.

Muita gente se diverte a entrar num autocarro, sem ver o destino, subir ao segundo andar para apreciar a paisagem, passear até apetecer, mudar para outro e assim sucessivamente até fartar... depois, apanhar um com destino certo ou o metro mais próximo para regressar a casa - é uma maneira de conhecer Londres "à aventura" - o bilhete está pago e pode ser usado 24 horas por dia.

Para ir de um destino a outro, no entanto, o metro é o melhor sistema e o mais rápido.

Nunca foi caro ir a Londres, mas o golpe desferido nas viagens aéreas pelo 11 de setembro provocou uma oferta crescente de condições notáveis. Neste momento há vários operadores a vender bilhetes a preços que vão de 1 cêntimo 10 euros - depois, claro, tem que pagar as taxas de Aeroporto, mas, se comprar online com dois meses de antecedência (às vezes menos) consegue um bilhete para Londres por tão pouco como 40 euros, ida e volta, tudo incluído... e a viagem demora menos que Lisboa-Porto!

A maioria das pessoas vai na 6ª de manhã e regressa Domingo à tarde, o que, na prática dá dois dias em Londres... mas não caia nisso, vai arrepender-se. Organize mais um dia ou dois, que vale a pena ou, no fim, o tempo não chega. Tente não comprar a viagem de regresso para de manhã, porque os aeroportos são longe e tem sempre que sair de casa quatro horas antes do voo.

  Divirta-se! Visitar Londres é visitar o Mundo!


© PEDRO LARANJEIRA
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