PÁGINA DE IMPRENSA DE PEDRO LARANJEIRA 8 junho 2007

SOPA DE LISBOA

O CALDEIRÃO

Numa atitude que impediria a apresentação de listas de independentes à autarquia, a Governadora Civil de Lisboa deu um tiro no pé ao marcar as eleições para 1 de julho. O Movimento Partido da Terra recorreu da decisão ao Tribunal Constitucional e a data foi alterada para 15 de julho.

A Lisboa que não estiver então já de férias é chamada a escolher um destino de futuro incerto, no receio de que a pulverização de votos conduza a uma situação de ingovernabilidade. Numa corrida onde o maior número de candidatos atingira nove em 76, perfilam-se agora doze.

ANTÓNIO COSTA
Com um extenso currículo e uma reputação de invejável transparência para um político português, o socialista de 46 anos, licenciado em jurídico-políticas, membro do Secretariado Nacional do PS, que já liderou quatro ministérios e era número dois do governo actual, parece destinado a vencer, com uma sondagem a dar-lhe o dobro de votos do segundo classificado. Como faz anos dois dias depois da eleição, corre o risco de receber o trono lisboeta como prenda de aniversário.

CARMONA RODRIGUES
Engenheiro, 51 anos, lisboeta, foi Ministro das Obras Públicas, Transportes e Habitação com Durão Barroso. Em julho de 2004 substituiu Santana Lopes como Presidente da Câmara, lugar que lhe devolveu em março de 2005. Em outubro desse ano ganhou a autarquia e governou apoiado numa coligação com o CDS-PP, até à queda do executivo. Já sem a confiança política do PSD, candidata-se como independente, gerando o maior desvio de votos que uma só candidatura retirará a vários opositores.

FERNANDO NEGRÃO
Nascido em Angola há 52 anos, é magistrado e já liderou a Polícia Judiciária. Foi Ministro de Santana Lopes e vereador em Setúbal desde 2005, cuja liderança ambicionava para 2009. Parece ressentido com o PSD por não lhe ter atribuído maiores responsabilidades até hoje e foi a quinta escolha de Marques Mendes (apesar de acusado num processo por violação de segredo de justiça), depois das recusas de Teixeira da Cruz, Ferreira Leite, Fernando Seara e Ferreira do Amaral. Perderá mais de 5% dos votos possíveis a favor de Carmona.

GARCIA PEREIRA

Advogado, 55 anos, especialista em Direito do Trabalho e professor universitário, dirigente carismático do PCTP-MRPP, foi candidato à Presidência da República em 2001 e 2006. Tem opiniões muito fortes e vai fazer uma campanha recheada de contestação polémica.

GONÇALO DA CÂMARA PEREIRA
Engenheiro, concorre pelo Partido Popular Monárquico. Propõe-se reduzir os gabinetes de vereadores, alienar 40% dos funcionários externos e encerrar as empresas municipais que possam ser substituídas por serviços internos. Aposta na formação para requalificação dos quadros existentes e em planos de desenvolvimento cultural, tempos livres e segurança. Apoia a redução do número de Freguesias.

HELENA ROSETA
Arquitecta, 60 anos, tem um extenso percurso político que vem desde militância antes do 25 de abril até ao apoio à candidatura de Soares Caneiro em 1980, viajando da ala direita do PSD à ala esquerda do PS, com alinhamentos a Mário Soares, Jorge Sampaio e Manuel Alegre. Foi Presidente de Cascais de 83 a 85 e está agora desligada dos partidos. Concorre como independente, pelo grupo "Cidadãos por Lisboa" e parece ser a mais prejudicada com a candidatura de Carmona Rodrigues.

JOSÉ PINTO-COELHO
Presidente do Partido Nacional Renovador, a extrema-direita nacionalista, que se assume como "uma pedrada no charco" por "ter a coragem de dizer em voz alta o que muitos dizem em surdina" e assim "enfrentar um sistema podre e caduco". Defende o lema "Pátria-Família-Vida" e diz que "A classe política anda a roubar o povo há trinta e tal anos - em vez de servirem, servem-se, em vez de governarem, governam-se. Com o PNR em Lisboa, isso é tudo para acabar, como verbas para associações que promovem a homossexualidade, o apoio a imigrantes ou manifestações sectárias da esquerda".

JOSÉ SÁ FERNANDES

Independente, apoiado pelo Bloco de Esquerda, tem 59 anos. Tentou unir as "esquerdas", não conseguiu, mas afirmou "Acabo com a corrupção na Câmara em dois anos". A dispersão provocada pelo "factor Carmona" pode vir a custar-lhe a eleição como vereador.

MANUEL MONTEIRO
Lisboeta com 45 anos, professor universitário em Tomar e no Porto, foi líder do CDS entre 1992 e 1997, sucedido por Paulo Portas, com quem vem a desentender-se, o que leva à fundação do Partido da Nova Democracia em 2003, por quem agora se candidata. O percurso do seu novo partido tem sido discreto na actualidade política nacional. São as sondagens - e não o ter nascido no dia das mentiras - que não lhe auguram um forte resultado na corrida a Lisboa.

PEDRO QUARTIN GRAÇA
Candidata-se pelo Movimento Partido da Terra. Tem 45 anos, é jurista, docente universitário e deputado, nasceu em Lisboa e é Membro da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República e da Subcomissão de Direitos Fundamentais e Comunicação Social. Já trabalhou na autarquia, foi fundador do "Movimento Alfacinha" e é Vice-Presidente da CIVITAS LISBOA - Associação de Defesa e Promoção dos Direitos dos Cidadãos.

RUBEN DE CARVALHO
Vereador cessante, 62 anos, membro do Comité Central do PCP, apresenta-se pela CDU, em coligação com os Verdes. Classifica a crise na Câmara como a mais grave desde o 25 de abril. Militante activo e autarca conhecido, sofrerá a inércia negativa do partido a que pertence, tendência a que Lisboa não escapa. Com muitos anos de jornalismo e comentador televisivo, sabe fazer-se ouvir e terá uma campanha mediática.

TELMO CORREIA

Candidato pelo CDS-PP, com Bagão Félix como mandatário, foi Ministro de Santana Lopes em 2004-2005. Também ele perderá votos para o antigo Presidente, colocando em dúvida a sua eleição como vereador, que entretanto anunciou que assumirá, se acontecer.

OS NÃO CANDIDATOS

De fora ficaram alguns nomes que optaram por não arriscar.

Falou-se em Paula Teixeira da Cruz, Ferreira do Amaral e Paulo Trancoso.

No entanto, dos "não-candidatos" destacam-se quatro nomes:

Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix, que preferiram ser mandatários de Fernando Negrão e Telmo Correia... e os dois mais mediatizados: Pedro Santana Lopes, que considerou correr mas não correu (talvez porque queira voar e aí as alturas serão outras) e Fernando Seara, que não arriscou trocar o certo pelo incerto, mas que depois da recusa se chegou a perceber que teria tido muito fortes hipóteses de ganhar Lisboa.
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