O povo quer que entremos para competir de igual para igual, ganhando quando há condições para ganhar, e perdendo quando fôr caso disso, mas com a consciência de que lutámos de igual para igual porque tinhamos condições para isso.
...e está satisteifo, também, com o actual governo, visto que os acordos foram assinados ainda sob a tutela do anterior?...
Sim, tem cumprido, têm existido pequenos atrasos pontualmente, mas tem cumprido, no essencial.
Teve uma diferença de opiniões com o Secretário de Estado Laurentino Dias, sobre a maneira como foram apresentados os objectivos de Portugal para Pequim, porque enquanto o Sr. Comandante dizia que o nosso objectivo eram cinco medalhas e sessenta e quatro pontos, o Sr. Secretário de Estado estabeleceu objectivos primordiais diferentes...
Não disse, escrevi!
Em troca dos catorze milhões de Euros, escrevi uma carta, que está no IDP, a dizer que se dessem o apoio obteríamos quatro a cinco medalhas e sessenta e quatro pontos, quando nós nunca conseguimos ultrapassar os quarenta e quatro, quarenta e cinco.
Isto está escrito, o que significa que quando acabarem os Jogos Olimpicos alguem vai cobrar essa promessa…e eu próprio cobrarei a mim mesmo.
Temos que deixar de olhar para os pés!
Portanto disso eu não abdico, e posso dizer que estamos com uma percentagem na ordem dos noventa por cento de cumprimento por parte do Estado, o que em Portugal é rarissimo acontecer.
Fiz esta promessa e responsabilizo-me por ela, porque realmente acredito que chegaremos lá, isto se não a ultrapassarmos.
Para isso, as federações têm que acreditar, os atletas têm que acreditar, o País tem que acreditar, e não é só no desporto, nós temos que começar a olhar para a frente, para o horizonte, deixar de olhar só para os pés!
Não tenho dúvidas que possuimos atletas e técnicos de grande nível mundial!
O que eu não quero é que comecemos já com a linguagem do "desgraçadinho", que é dizer que "o que é preciso é subirmos um bocadinho, subir uns pontinhos no ranking...", foi nessa perspectiva que eu reagi às declarações do Sr. Secretário de Estado, embora deva dizer que provavelmente ele teve boa intenção, não elevando a fasquia, para que depois, caso os resultados não cheguem ao que eu apontei, não haja desapontamento... de qualquer maneira, estarei cá para pagar o preço ...
|
 |
...ou seja, enquanto o Sr. Secretário de Estado foi mais comedido, o Sr. Comandante foi mais ambicioso...
Sim, completamente!
Mas o objectivo das 5 medalhas e 64 pontos continua actual, ou agora, que fala de onze atletas com hipoteses de serem medalhados, a fasquia sobe mais?
Não... continua actual. Repare que eu disse há pouco que são cinco medalhas pelo menos...
Mas temos onze atletas com possibilidades de ganhar medalhas. Onze! Só estou a apostar em cinquenta por cento, portanto as perspectivas são reais.
O trabalho que nós fazemos com meia dúzia de
pessoas, ocuparia ao IDP mais de quinhentas...
Se estes objectivos que traçou para Pequim forem atingidos, está previsto um aumento de verbas para o proximo ciclo Olimpico?
Não. Ainda não falámos disso. Para já, eu apenas quero que o Estado perceba que somos capazes de fazer um trabalho bem feito, com rigor, e muito mais económico, porque o que estamos aqui a fazer com meia duzia de pessoas, teria que fazer o IDP com mais de quinhentas, e os gastos administrativos seriam muitissimo maiores.
Existe também a questão da formação, já o ouvi falar dos "Mourinhos" que são chamados para o estrangeiro…como estamos de quadros capazes de dar uma boa formação para alta competição?
Estamos cada vez melhor! Estão sempre a sair novas fornadas de licenciados na área do desporto, o que faz com que o nível dos treinadores venha aumentando. Por outro lado, os auto-didactas, que ainda existem, também se têm conseguindo adaptar, acompanhando o desenvolvimento qualitativo do Desporto.
E em termos de infra-estruturas?
Andei durante anos a clamar no deserto que não haviam piscinas de 50 metros cobertas e aquecidas, mas felizmente, e salvo raras excepções - o caso do Porto, que não tem uma piscina destas - já as temos por todo o país, já há instalações desportivas em todo o lado, as câmaras têm feito um bom trabalho e o problema que se põe não é tanto o da construção, mas sim o da manutenção.
Há câmaras que construiram complexos desportivos e centros de estágio sem ter em conta os dados, no que diz respeito a rendimentos e despesas de manutenção. Sei de instalações desportivas que estão "às moscas" e isso deve ser uma preocupação do Estado, que deve arranjar maneira de pôr as instalações desportivas a render. Portanto, e excepto casos localizados, Portugal dispõe neste momento de infra-estruturas mais que capazes.
...se um atleta tiver um acidente
teremos que andar a fazer um peditório...
Já está resolvido o problema dos seguros desportivos dos atletas?
Não, não está... é curioso que nós, ao mesmo tempo que damos passos de gigante na prática desportiva e nos resultados, estamos ainda nos patamares mais ínfimos da resolução de alguns problemas!
Não dá para explicar que os atletas não possuam um seguro de vida devidamente adaptado, e que se amanhã ficarem tetraplégicos, não terão nenhum tipo de apoio, teremos que andar a fazer um peditório, como aconteceu à pouco com uma situação muito complicada nos trampolins. Andou toda a gente a pedir dinheiro uns aos outros, porque não há de facto um seguro deste tipo.
Houve algum aumento de participação dos portugueses no desporto desde Atenas 2004?
Acho que sim. Há uma questão, que é o facto do país estar muito "futebolizado", e isso acontece porque a comunicação social vai mais atrás do futebol, e penso que estão a prestar um mau serviço ao país, neste aspecto.
Mas não posso condenar a comunicação social privada, vendem o produto que querem.
 |
...o desporto é uma ilha rodeada de futebol por todos os lados...
Já quando falamos de organismos de interesse público, compreendo menos.
O futebol de hoje inunda tudo, eu até costumo dizer que "o desporto é uma ilha rodeada de futebol por todos os lados, até por cima".
Lembro-me de um jornal desportivo, quando da medalha de prata de Obikwelu em Atenas, uma prova que o projectou mundialmente, ter posto na primeira página um jogador de futebol a passar férias no Algarve, deitado na praia, e apenas numa coluna aparecia o Obikwelu com a medalha.
Neste caso, a comunicação prestou um mau serviço ao desporto!
Mas eu diria que alguns sinais de esperança começam a surgir, como este novo jornal desportivo gratuito, que consegue pôr na capa a equipa Portuguesa que se qualificou para o campeonato da Europa de Ténis de Mesa, um feito relevante em termos desportivos. Portanto, eu acho que a pouco e pouco o povo português vai estando mais atento ao desporto em geral.
|
Como terminou aquele seu diferendo em relação ao caso Nuno Assis...
Quem deve em primeiro lugar preocupar-se com o doping, na sua própria casa, tem que ser a Federação, a Liga, as Associações e os Clubes.
O controlo anti-doping é feito de uma forma exterior ao futebol, ou seja, é feito pelo Estado, o laboratório é pago pelo Estado, bem como todos os seus custos, e depois quando há controlos positivos, toda aquela família está contra o Estado, porque as regras não foram cumpridas.
Isto não pode ser, o futebol deve defender a sua própria verdade desportiva.
...mas acha o arquivamento do processo um acto de arrogância?
O que eles fizeram foi exactamente fugir ao problema, porque se lermos o acordão do tribunal arbitral, que está na internet, verificamos que está lá tudo, e verificamos quem é que sai mal do caso…que são as entidades que não foram capazes de avaliar aquele problema de acordo com a lei.
Penso que não é o jogador o mais penalizado, apesar de o ter sido, mas sim o sistema, que não foi capaz de agir correctamente.
Como é que ficaram as suas relações com o Sport Lisboa & Benfica?
As relações são normais, eu apenas dei uma opinião, que se veio a verificar certa. Fiz um comentário porque sou da opinião que as coisas foram mal tratadas, e para quem tiver duvidas, repito, é lerem o acordão que está na internet.
...recebi ameaças de morte...
Então como é que consegue explicar, se os seus comentários foram apenas repetir o que está na lei, que tenha chegado ao ponto de receber ameaças de morte…que as recebeu, certo?
Sim, é verdade que recebi.
Mas isso tem a ver com o facto de as pessoas não cuidarem do seu próprio negócio, depois a tendência é sempre de passar para o exterior a culpa do que ali acontece, e neste caso foi isso, com as culpas do sucedido a cairem sobre o Secretário de Estado e sobre mim próprio, que nada tenho a ver com o assunto, e apenas emiti uma opinião…mas tudo isto são provas contínuas dum ilusionismo que teima em persistir.
...tenho dúvidas que os atletas consumam drogas,
a não ser que lhes sejam ministradas por terceiros...
Que acha da atitude dos atletas em relação ao consumo de drogas?
Tenho muitas dúvidas que algum deles consuma qualquer tipo de produto, a não ser que lhe seja administrado por terceiros.
Ou lho dão por engano, ou os iludem, dizendo que os problemas passarão mais rápidamente e, sendo assim, é mau!
Vou dar aqui um parecer que não é muito consensual, mas que é o meu.
Eu sou a favor do atleta, sou a favor de que, na mínima dúvida, o atleta é inocente!
Não sou pró-penalização dos atletas, mas antes a favor da pedagogia. Devem esclarecer-se os atletas sobre os malefícios do doping.
O que eu realmente gostaria era que em Portugal se realizassem mais controlos anti-doping já este ano, e que os resultados positivos fossem zero.
Por outras palavras, gostaria que mudasse a política de dizer que se está a trabalhar bem, porque este ano penalizámos 20 e o ano passado 27. Isso, a meu ver, não é uma melhoria, é um retrocesso.
...preferia 40% dos jovens a praticar desporto
que ganhar medalhas nos Jogos...
|
 |
É o desporto que está a tornar-se mais consciente, ou a sociedade que está a consumir menos?
Eu acho que é o desporto que está a ganhar mais consciência, não a sociedade.
A ideia que tenho é que as drogas vão alargando o espaço de actuação. Penso que há uma atitude macia em relação ao problema, hoje os jovens vão para as discotecas beber shots, para ficarem ràpidamente enebriados ou alcoolizados, o que é péssimo!
Por isso eu incentivo os jovens a praticar desporto, uma vida mais saudável, mesmo que não atinjam nivel elevado, mas sigam uma rotina mais sã, não consumam esse tipo de "drogas alcoólicas".
Apesar de estar a lutar por resultados nos próximos Jogos Olímpicos, se eu tivesse que escolher entre esses resultados ou ter 40% dos jovens Portugueses a praticar Desporto, eu escolheria perder a minha aposta em relação às medalhas.
... tenho apenas um inimigo… e só para o chatear
pode ser que que continue à frente do COP...
Já disse que ia deixar o COP depois deste ciclo olímpico, depois já disse que afinal ia ficar...
Não, eu não disse isso. Eu posso dizer é que tenho o apoio quase unânime de todas as Federações, ou unânime...
Mas também tem inimigos...?
Tenho um inimigo... um que eu saiba! E foi só para chatear esse inimigo que eu disse que ficava.
Ah... afinal disse!...: …mas, quem é esse inimigo?...
É um professor universitário... que nos últimos 10 anos anda a clamar que eu já me devia ter ido embora, que estou velho e ultrapassado, é quase todas as semanas a mesma conversa! ...e então eu disse que, como até tenho um inimigo de estimação, só para o aborrecer, vou ficar...
...porque a minha intenção real é retirar-me em março de 2009, depois dos Jogos Olímpicos.
O que vai acontecer é que, se for um fracasso, evidentemente isso vai-se cumprir, se não for, e só para irritar este meu inimigo, pode ser que fique…:…
O Projecto Esperanças, que é algo que pela primeira vez é feito em Portugal, tem como objectivos reais para 2012 resultados ainda superiores aos de Pequim 2008?
Vamos ver...eu penso que deste Projecto irão sair bons resultados, até porque isto nunca foi feito antes.
Mas o que se passa é que em Portugal as pessoas são muito cépticas, não há quem se queira responsabilizar por objectivos.
 |
...o Desporto é a única área em Portugal que nos junta a ouvir o Hino e a chorar a olhar para a Bandeira hasteada num mastro, tudo o resto dá vontade de emigar para outro país...
Em Portugal diz-se: "Este ano vou ser campeão nacional, este ano vou ganhar as três taças..." - e depois não se ganha nada, e tudo fica como antes. O que eu estou a querer dizer é que, comigo, nada ficará como antes!
Portanto, tem que começar a haver uma responsabilização, há que pagar o preço e eu estou disposto a pagá-lo.
Digo mais: o Desporto, é, em Portugal, a única área que aumenta a auto-estima do povo, que nos junta a ouvir o Hino e a chorar a olhar para a Bandeira hasteada num mastro. Todos os outros sectores só nos dão vontade de emigrar para outro país, por isso temos que começar a tratar de nós próprios, temos que ter orgulho nas coisas que estamos a fazer, ou daqui a dez ou vinte anos estamos completamente dissolvidos na Europa!...
|
...a Aldeia Olímpica de Lisboa...
Finalmente... para quando os Jogos Olímpicos em Lisboa?
Ai está um problema que me começa a causar alguma dificuldade em falar.
Porquê? Porque isso é, de facto, um projecto!
O Sr. Secretário de Estado, com certeza sem intenção, quando esteve em Pequim, fez declarações onde disse que só um louco pensaria em Jogos Olímpicos em Portugal. As pessoas entenderam isso como se ele me estivesse a chamar louco a mim, e perguntaram-me o que eu pensava… o que eu penso é que o Sr. Secretário de Estado nunca esteve nuns Jogos Olímpicos e, ao deparar-se com as instalações de Pequim 2008, que custam mais que 10 vezes as de Atenas, custam mais que 10 vezes as de Londres 2012 (o que só demonstra que a China se quer afirmar como grande potência, e por isso não está a economizar dinheiro), tudo aquilo deixou o Sr. Secretário de Estado assustado, compreendo perfeitamente.
Mas eu tenho reparado que, em Portugal, é preciso falar das coisas, expôr os problemas para que eles se resolvam, andem para a frente. É assim em termos políticos e também em termos desportivos.
Nós temos capacidades enormes, mas temos também dificuldade em nos sentarmos e discutirmos.
Acho que temos que arranjar um objectivo redundante, que junte à volta de uma mesa o Governo, as Autarquias, o Comité Olímpico, as Federações, as Empresas - e traçar um objectivo, um plano de desenvolvimente desportivo!
Bom, para haver essa mesa redonda, tem que haver iniciativa, e essa tem que ser sua, ou não?...
Tem que ser minha, sim.
Mas o que acontece é que o COP precisa que as pessoas estejam receptivas, não a uma hipotética candidatura, mas sim a estudar o problema, ver se é possivel e para quando, ou, se não fôr possivel, então não é, mas que se estude!
...o governo não quer Jogos Olímpicos em Portugal...
E as pessoas... não estão receptivas a isso?
Não estão.
O Sr. Secretário de Estado não está, o Governo não está, disso eu não tenho dúvidas!
É por isso que me custa falar disto, porque não só não estão receptivos, como reagem mal à minha proposta.
O que é curioso é que todos os outros sectores da sociedade reagem bem, tanto os empresários, como as autarquias, os atletas, a comunicação social, entidades económicas... e isto a pouco e pouco vai andando...
Acabei de receber do Jacques Rogge (Presidente do Comité Olímpico Internacional) uma solicitação para apresentar a nossa candidatura.
Eles ouvem, eles lêem as coisas e entram de imediato em contacto, porque pensam que estou neste processo, e que isto é para ir para a frente, senão nem me mandavam as regras para a candidatura, que estão aqui...
...o que se passa é que o Governo, através da Secretaria de Estado, entende que esta candidatura é "uma candidatura de faz de conta", e que provavelmente nós não teríamos capacidade, que a opinião pública não estaria receptiva, porque isto implicaria um investimento muito grande - que não despesa, porque a candidatura pagar-se-ia mais tarde a ela própria, pelos lucros que viria a proporcionar!
Mas pronto, não há de facto receptividade a esta proposta...
...Aeroporto da Portela, Aldeia Olímpica ...
Então, todos os sectores da sociedade estão receptivos, só o Governo se opõe?...
Não está interessado. De facto, até reage mal quando eu falo desta matéria, porque deve pensar que a opinião pública vai achar que estou louco ao querer com isto e gastar 2 ou 3 mil milhões de euros, mas eu tenho isto tudo projectado e planeado.
Por exemplo, o Aeroporto da Portela vai sair dali, a área daria uma Aldeia Olímpica excepcional, porque tem uma auto-estrada, poderia construir-se uma estação de metro, espaços verdes, eu tenho tudo projectado já, mas de facto não é possível uma candidatura ter sucesso se não tiver o apoio unânime de todas as entidades públicas do país.
Portanto, quando o Governo diz que não, é não!...
Por outro lado, presume-se que o país anfitrião deva poder ganhar 10 ou 12 medalhas, por isso, eu queria que, com base nessa candidatura, se abrisse espaço para criar um projecto de desenvolvimento desportivo de uma década, que transformasse o Desporto Português, de forma a conseguir essas 10 a 12 medalhas, o que é viável.
Os espanhóis, até aos Jogos de Barcelona ganhavam três ou quatro medalhas - em Bacelona ganharam 22 - e a partir daí tornaram-se uma potência desportiva europeia e mundial.
Na Grécia passou-se o mesmo, e a Grécia é um país de 10 milhões de habitantes, como o nosso, muito semelhante ao nosso em termos económico-sociais.
Os Jogos não se confinariam a Lisboa, Portugal é um país pequeno, poderíamos perfeitamente distribuir modalidades pelo Norte, pelo Centro, Alentejo e Algarve, pelo país inteiro.
Só a apresentação de uma candidatura projecta Portugal durante 5 ou 6 anos além-fronteiras, porque está todo o mundo atento a estas coisas, e isto seria de facto essencial para que o Desporto em Portugal se desenvolvesse como todos pretendemos.
... mas não abandonou, nem tenciona abandonar o Projecto, certo?...
Claro que não!
Eu acho que me vão criar problemas por dar esta resposta…mas eu tenho a certeza que enquanto for vivo, e mesmo que já não esteja no COP, ainda vou ver esta candidatura ser apresentada!
Para isso, só falta convencer o Governo de que não existe nenhum inconveniente, mas apenas benefícios para Portugal.