PÁGINA DE IMPRENSA DE PEDRO LARANJEIRA 15 maio 2005

DESEMPREGO EM PORTUGAL: 7,1
            ...se o Estado tivesse nariz... parecia o Pinóquio

Pois é, importante é que se dê uma imagem boa deste canteiro à beira mar plantado, para o exterior e para o povinho de cá! Numa altura em que se estima a percentagem real de verdadeiros desempregados a rondar os 28% da população activa, conseguimos ver dados divulgados a dizer que ela é de 7,1...

E como é que se consegue este malabirismo?...

Simples: basta subverter as regras. De resto, utilizar estatísticas é sempre algo falacioso, se não se for escrupulosamente honesto, ou seja: se eu comer dois frangos e tu não comeres nenhum, em média comemos um frango cada um!

...logo, ninguém está com fome... verdade?...

Para as taxas de desemprego, foi-se um passo (de gigante) mais longe.

O segredo está nisto: se um cidadão, mesmo desempregadíssimo, arranjar um pequeno “biscate”, digamos um servicinho de 30 euros, óptimo para quem não tem trabalho, manda a lei (e quem paga) que passe um recibo, verde ou outro...

Pode não conseguir mais nada, o ano todo, e viver a sustento da família, mas passou aquele recibo, o que quer dizer que tem de estar autorizado pelas Finanças a fazê-lo. Agora pasme-se: quem o está (autorizado pelas Finanças a passar um recibo) NÃO É DESEMPREGADO! Nem que facture 30 euros/ano!

Ou seja, o critério não é ter-se trabalho ou não... é ganhar-se 0,00 € ao longo do ano fiscal - se essa verba for superior a zero, não se está desempregado, quer se tenha trabalho (ou emprego) quer não...

Mas não se ficam as coisas por aqui!

Apresentando-se o luso-atribulado no respectivo Centro de Emprego para se inscrever, lá fica então oficialmente como "desempregado", desde que tenha passado já pelas Finanças a dar baixa da sua capacidade de assinar recibos (verdes ou outros) e sendo obrigado a assinar um protocolo em que se compromete a cooperar com o estado na iniciativa de criação de novas empresas e postos de trabalho, afirmando-se o estado disponível para comparticipar com 40% de verba necessária em projectos viáveis e aprováveis em que o desempregado tenha 60% de capital próprio para investir !!!

Não percamos as perspectivas: estamos a falar de uma pessoa que não tem emprego e se apresentou no Centro de Emprego para tentar obter emprego...

Passo seguinte deste melodrama teatral: três meses depois, o dito desempregado recebe em casa uma carta do Centro de Emprego a dizer, textualmente, que, dado não lhe terem conseguido obter colocação nesse tempo e a menos que contacte o Centro por escrito a declarar o contrário, vão proceder à anulação da sua inscrição…!!!

Como diria Fernando Pessa: "...e esta, hein?..."

Assim é fácil mostrar bons números!


© PEDRO LARANJEIRA

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