Foi um fim de semana especial - só quem lá esteve imagina quanto!
Por iniciativa dos Bombeiros Voluntários de Águas de Moura, organizou-se uma Marcha Nocturna destinada a avaliar a preparação para a época de fogos florestais que se avizinha e promover um convívio mais estreito entre homens e mulheres de Corporações diferentes, que só em serviço se encontram no terreno.
Enviaram-se convites a Setúbal, Palmela, Vendas Novas, Cacilhas, Barreiro, Pinhal Novo e Alcácer do Sal. O evento previa o transporte de equipamento relacionado com o combate a fogos e foi planeado para dois grupos partirem em direcções diferentes, encontrar-se a meio e terminar já de manhã, de regresso ao Quartel em Águas de Moura.
Participaram 18 Bombeiros de Águas de Mora, 7 de Vendas Novas, 5 dos Voluntários de Sul e Sueste do Barreiro e um profissional de uma Empresa de Ambulâncias, num total de 31 homens e mulheres.
Partiu-se às 11 da noite, com o hino nacional nas vozes e a população a vir à rua dar apoio.
Ao fundo da vila, os grupos separaram-se e embrenharam-se no mato. Por montes, pastos e veredas chegou-se à Torre de Vigia dos Bombeiros de Águas de Moura, logo com um baptismo de subidas íngremes em areia solta para testar resistências e preparação física. Uma pausa de três minutos foi a primeira oportunidade para um golo dos cantis, repor líquidos e seguir viagem. A partir daí, já nem as veredas mereciam o nome e foi um corta-mato que serviu para mostrar as condições em que às vezes se tem que trabalhar sem hipótese para acesso de viaturas.
Ao fundo do vale, depois de transposto um açude, o primeiro incidente: uma máquina fotográfica tinha caído algures lá para trás… coube ao Adjunto de Comando de Águas de Moura o retrocesso e a recuperação, dois quilómetros atrás… para reatar, em passo de corrida, o contacto com o grupo, que entretanto seguira.
Cruzaram-se campos e montes em que os cães mostraram bem qual o seu trabalho de noite. Teve que se atravessar um ribeiro por dentro de água e testar as comunicações por rádio. Para quem conheça a zona, esteve-se no Monte do Castanheiro, complexo da Parmalat e Herdade da Pernada. Um breve percurso em alcatrão na Nacional 10, pela Fábrica de Tomate, levou-nos a outros montes e vales, a caminho do Monte Velho da Herdade do Espirra, onde nos encontramos com o outro grupo e três carros trouxeram caldo verde, pão e sumos. Era o intervalo a meio da aventura. Estavam feitos 15 quilómetros, a madrugada era quente e o espírito dos participantes óptimo.
Foi uma pausa de meia hora para convívio, retempero e troca de impressões. Depois, de novo pés ao caminho, para o Posto Experimental de Pegões, Fonte Barreira, Fernando Pó e Bairro do Margaça, em direcção ao terreno das novas instalações dos Bombeiros de Águas de Moura, onde esperavam as sanduíches, o café com leite e trinta e um Certificados de Participação na prova. Eram quase oito da manhã.
Mas nem tudo foi fácil… A meio do percurso, uma bombeira do Barreiro tinha já um dos pés ferido - foi-lhe oferecido regresso num dos carros de apoio, mas preferiu fazer um curativo, aplicar uma ligadura e seguir - viria a ter que o fazer de novo dez quilómetros adiante… mas terminou a prova! Dois outros bombeiros tiveram que ser evacuados antes do fim, essencialmente por lesões ainda não inteiramente curadas - mas isso aconteceu só após 28 kms de coragem e persistência.
Toda a organização e logística esteve a cargo do Subchefe Orlando Felício, com o apoio e coordenação do Adjunto de Comando Rui Laranjeira, que depois no terreno conduziram os dois grupos pelos percursos agendados.
O participante mais velho teve mesmo que juntar carácter de bombeiro a espírito de jornalista, porque foi o novo Assessor de Imprensa da Corporação de Águas de Moura, mas o 2º Comandante estava ainda mais fresco, nos seus 57 anos.
Curiosamente, porém, para contrariar quem pensa que os postos de chefia se fazem à secretária, todo o quadro de Comando participou na prova e foi o próprio Comandante quem melhor deu uma lição de capacidade e excelência: sempre em movimento, acompanhando e dando apoio, o Comandante Luís Rosa esteve em todo o lado, sempre um passo à frente do que era necessário, com um sorriso fácil e uma invejável elasticidade nas pernas.
Esta iniciativa dos Bombeiros Voluntários de Águas de Moura contou com o apoio da Parmalat e da Câmara Municipal de Palmela.
Foi o Solstício de Verão numa noite em Águas de Moura… e os soldados da paz estão prontos para o que vier !
Águas de Moura, 21 de junho de 2004